sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Férias

2012... janeiro... férias merecidas!!!
A melhor forma que encontrei para aproveitar esses dias quentes de verão foi selecionando alguns livros para degustar... e cá estou eu... com três livros iniciados... acho que além de não saber ler em capítulos, não sei ler de um em um... um me distrai do outro e me faz voltar com mais gula para a leitura anterior. Os escolhidos desse início de ano são: Feliz por Nada, da Martha Medeiros (crônicas), Uma Duas da Eliane Brum (seu primeiro livro de ficção, que vem comprovar seu talento para a escrita) e A Atenção Aprisionada de Alícia Fernández (psicopedagoga argentina), que me faz refletir sobre tantos casos de desatenção que enfrentamos a cada dia no nosso cotidiano de educadoras... E vamos à leitura!!!

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Hora do Conto e a paixão pela Leitura


No exercício da profissão de educadora deparei-me em uma revista direcionada a educação com uma entrevista com o escritor Pedro Bandeira, onde uma das suas frases tocou-me profundamente e possibilitou-me várias reflexões.

Ao falar sobre a leitura Pedro Bandeira diz: “Ler é um verbo muito estranho, semelhante aos verbos sonhar e amar. Os três não comportam o imperativo. Realmente, não se cria o gosto pela leitura mandando ler, assim como ninguém sonha ou ama porque lhe é ordenado que assim seja.

A paixão pela leitura só é despertada a partir de experiências prazerosas e significativas de leitura, sejam elas na escola ou anterior a ela. E nessa ótica a hora do conto ou contação de histórias é uma poderosa ferramenta para encantar futuros leitores, despertando-lhes a sensibilidade, abrindo-lhe as portas para o imaginário e a fantasia.

Leitores assíduos são criados a partir do momento em que o “outro”, seja ele, pai, mãe, tios, avós ou professores demonstrem o gosto por livros e histórias, apresentando à criança o mundo encantado dos livros através do seu exemplo.

Na minha vida a literatura entrou muito cedo, porque ainda bem pequeninha, lembro de meu avô lendo e contando-me histórias e outras tantas minha mãe em seus exíguos espaços de tempo, onde me dizia quando eu pedia mais: “quer mais histórias, aprenda a ler.” Aprendi a ler aos quatro anos.

O educador apaixonado pela leitura, aquele que lê muitos livros durante o ano, sejam eles de literatura ou de qualquer outro tipo, com certeza passará essa paixão ao seu aluno porque este perceberá o brilho do seu olhar ao se reportar às leituras realizadas.

Isso é fato, pessoas apaixonadas pelo que fazem tem um brilho especial no olhar que os diferencia dos demais e são essas que inspiram os educandos e os auxiliam na construção de suas aprendizagens. E é nesse intuito que se cria na Biblioteca Infantil do IMEAB, um ambiente todo voltado ao prazer de ler e ouvir histórias, pra além dos momentos diários de sala de aula, onde é claro, a literatura sempre está presente, uma vez que a formação de leitores é uma das nossas metas do PDE.

Nádia Helena

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Eu professora e aprendiz

Sou Nádia Helena Trindade da Costa. Desde que me conheço por gente apaixonada pelo mundo das letras e histórias. Fui alfabetizada em casa pelo meu avô aos quatro anos de idade. Ele professor aposentado. Minha mãe também professora. E me instigavam a aprender ler porque eu queria sempre e sempre ouvir histórias. E não havia o que chegasse. Assim me constituí leitora e segui ao longo do meu crescimento devorando livros... sempre em busca... sempre aprendendo. A única profissão que quis desde sempre foi ser professora. Após 23 de anos de profissão, onde assumi os mais diferentes desafios - professora regente de séries iniciais, vice-direção, direção, coordenação pedagógica tanto de anos iniciais, como de anos finais e uma coordenação na 36ª CRE) - ainda acredito que é pela educação que podemos transformar o mundo, creio que tenho esse ideal “no sangue” pois apesar de as vezes me sentir “dando murro em ponta de faca” me é impossível pensar em fazer qualquer outra atividade menos estressante. Amo o que faço. Sou apaixonada pela educação e pela possibilidade de aprendizagem constante ao longo da vida. Magistério, Pedagogia Séries Iniciais, especialização em Psicopedagogia – abordagem clínica e institucional... apenas alguns dos caminhos que trilhei para a construção de minhas aprendizagens, porque pra além dos cursos propriamente ditos, todos e principalmente o profissional da educação tem que estar antenado e aprendendo, aprimorando-se, atualizando diariamente. Quem não aprende não vive. Fica estagnado, parado, “morto” e por isso estou engajada em mais esse trabalho, aperfeiçoar meus conhecimentos em relação às novas tecnologias, voltadas para a educação para que possa contribuir na formação dos educandos verdadeiramente para a vida.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Uma experiência marcante


Entre tantas experiências que marcaram minha vida profissional hoje vou escrever sobre uma turma de progressão com que trabalhei no ano de 2003 em uma escola estadual de nossa cidade.
O desafio me foi colocado pela direção da escola em virtude de que eu fazia, na época, especialização em psicopedagogia - abordagem clínica e institucional, uma vez que o objeto do estudo da psicopedagogia é justamente o não aprender.
Foram designados para essa turma, doze meninos retirados de três turmas que formariam o primeiro ano da segunda estapa do ensino fundamental, correspondendo a terceira série do ensino seriado, e que além de não estarem ainda alfabetizados e , portanto, não preparados para acompanhar essa turma, apresentavam também inúmeros problemas disciplinares. Nos anos anteriores esses meninos passavam mais tempo na sala da orientação educacional do que em sala de aula.
Bem, aceito o desafio, parti para a ação. Já no primeiro dia de aula descobri que eram crianças com auto-estima baixíssima, com idades variando de 8 a 12 anos. Disseram-me que estavam naquela sala porque eram burros e não aprendiam. Ali se encontravam crianças com déficit de atenção, dificuldades de concentração, e com vivências que os haviam tornado indisciplinados e debochados.
Sempre acreditei que a educação é um ato de amor e que a aprendizagem se dá a partir de um ato de amor. Pois, como diz Alícia Fernández, "não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar." Entendi, pois, que precisava conquistar essas crianças e devolver a elas a auto-estima perdida, fazer com que elas se descobrissem inteligentes e capazes de aprender e ter sucesso.
Trabalho difícil. Muitas vezes boicotado por elas. Preparei um planejamento baseado no resgate de valores essenciais a vida: amizade, coleguismo, união, amor... e paralelamente comecei a chamar as famílias em horários depois do expediente, com a intenção de conhecer um pouquinho mais da história de vida de cada um.
Enquanto eu falava em amor e amizade, eles brigavam, desrespeitavam-se, batiam um no outro, eram indisciplinados, não realizavam as tarefas solicitadas, eram barulhentos. E as colegas, que tinham salas próximas e que tinham ficado com aqueles alunos que não abriam a boca, reclamavam do barulho. Foram meses de muito sofrimento, durante os quais não desisti da minha luta... e fui tateando no escuro, tentando tudo o que eu pensava que pudesse trazer resultado.
Esqueci de relatar no início que o objetivo era que se recuperasse com essa turma até a metade do ano conteúdos necessários para que pudessem ingressar nas turmas normais no segundo semestre. E eles nem sequer liam...
Ouvindo o relato das mães que aceitaram o convite e compareceram, fui entendendo um pouco mais aquelas crianças, praticamente todas muito sofridas. Uma mãe me relatou que ela era mãe adotiva dessa criança que tinha sofrido várias tentativas de aborto pela mãe bíológica e que em função disso enfrentava todas essas dificuldades. E ela me disse: Professora, o A. me disse que esse ano ele vai aprender. Eu perguntei a ela porquê e ele me respondeu: Porque agora eu tenho uma profe que me ama. Aí eu perguntei pra ele se a senhora não brigava com ele, e ele me disse: Briga, mas briga porque me ama.
Outra mãe relatou que seu filho estava muito feliz e que dizia em casa que a profe quando xinga a gente chama de lindo e de amor. E a mãe satisfeitíssima com o entusiasmo nunca antes demonstrado pelo filho pela aprendizagem.
Mas havia um longo caminho pela frente. Muitas vezes tive vontade de fugir... sumir.... desanimava... mas seguia em frente. O apoio que eu tinha era basicamente da professora do laboratório de aprendizagem, que os conhecia desde o início da escolarização e sempre me apontava os progressos que ela notava eles... alguns quase imperceptíveis, ainda mais pra mim que tinha grande expectativa. E a vice-diretora que durante muitos anos foi alfabetizadora e que conhecia eles de perto também, e sempre procurava me incentivar a prosseguir. Um vice-diretor da escola, que era de outro turno, mas que uma vez por semana estava a tarde conosco, uma pessoa muito legal e responsável me animava também dizendo pra eu observar bem, que eles estavam mudando, mesmo que fosse aos poucos, e que se eu conseguisse salvar um deles já teria feito um trabalho excelente.
E o trabalho ia seguindo. Uma tarde, cansada de tentar "dar" aula sem ninguém a prestar atenção em mim, tomei uma atitude drástica. Era ínicio de maio. Virei-me do quadro, em silêncio, e comecei a guardar meu material. Isso chamou a atenção das crianças que brincavam... perguntaram o que eu ia fazer e lhes disse calmamente que eu ia embora. Alguns mais cínicos disseram-me que eu não podia fazer isso, que tinha que dar aula para eles. Respondi que podia sim, que havia muitas escolas e turmas que queriam aprender e precisavam de bons professores e que eu estava sobrando ali, já que eles não estavam interessados em aprender. E me dirigi para a porta. Alguns alunos choraram e pediram pra eu voltar, os mais cínicos ficaram me olhando debochadamente. E eu disse tchau e parti para a sala da direção, me achando uma grande tola, já que, sabia teria que voltar pra sala e poderia ter perdido assim o restinho do respeito deles. Chegando lá expus o problema para esse vice-diretor que citei a pouco e ele e a orinetadora foram para a sala e eu fiquei na sala dos professores. Como havia uma estagiária de psicologia dando sopa lá, resolvi contar o meu problema a ela para que não ficasse me julgando maluca.
Ela me fez uma proposta que nunca antes tinha ouvido de uma estagiária de psicologia (longa experiência ao lado delas nas escolas). `Propôs realizar um trabalho com a turma se eu desse um espaço para ela nas minhas aulas. Surpresa e feliz, topei de imediato.
Passado uma meia hora um aluno veio chamar-me e eu fui para a sala onde ouvi o pedido de desculpas da turma e as novas regras combinadas com a equipe. Ouvindo, que eles não podiam nem ir até a lixeira apontar o lápis logo percebi que isso não ia durar muito, mas eles fizeram um esforço e eu voltei para aula.
Desse dia em diante notei uma melhora da turma no geral, as brigas diminuíram e a indisciplina também, eram altos e baixos, mas eu percebia que eles estavam esforçando-se. Na semana seguinte saíram uma tarde em grande alvoroço da minha sala dizendo que a diretora queria falar com eles. Descobri depois que eles foram conversar com a mesma pedindo permissão para organizar uma festa surpresa pra mim. E que quando ela perguntou se eu estava de aniversário eles disseram que não. O motivo da festa era a profe estar muito triste. Questionados sobre minha tristeza responderam que eles não queriam me incomodar, mas que não se aguentavam.
Como forma de incentivo para que eles esforçassem contei a eles que a partir do momento em que dessem conta dos objetivos que tínhamos eles seriam integrados nas demais turmas normais. E logo descobri, que essa era uma faca de dois gumes. Pois uma mãe procurou-me para perguntar se isso era verdade e me contar que ouviu o J dizer para a irmã dele que não podia demonstrar que estava aprendendo porque senão teria que trocar de professora. Aí prometi que não os deixaria, mas que eles tinham que aprender porque do contrário eu ficaria muito mal perante os outros professores.
Sem certezas... mas firme no amor... e nos meus ideais de educadora, eu ia procurando caminhos para vencer esse desafio.

Como terminou essa história??? Bem.. a festinha foi organizada e muito bem organizada por eles em segredo, tinha comida e bebida, presentes e até música. Sim, ouvi a tarde toda tocar a música Velha infância , que eu tinha ensaiado com eles para apresentar no dia das mães. Sim, ousei fazer uma apresentação do dia das mães com essa turminha. Senti a partir daquele dia cada vez mais que eles mudavam e dedicavam-se.. e não pude cumprir minha promessa de ficar com eles até o final do ano. Foram avaliados e como constatou-se que eles podiam acompanhar as outras turmas eles me foram tirados. Dos doze fiquei apenas com quatro que estavam mais fracos e recebi mais uma turma proveniente agora dos mais fracos do segundo ano da primeira etapa, porque tinha passado a ser a consertadora da escola.

Memorial

Nasci, filha primogênita de uma professora e de um operário; neta de professor. Cresci, cercada de livros e apaixonada por estes. Meu avô alfabetizou-me quando eu tinha quatro anos. Sempre pedia para que lessem historinhas para mim. Minha mãe satisfazia-me, mas diante da minha insistência e voracidade em ouvir histórias, lembro-me dela dizendo: “quer ouvir historinhas, aprenda a ler”.
Nunca fui muito chegada a bonecas e a brincar de casinha. Minha brincadeira preferida era a de professora, pois desde aquela época tinha a firme convicção de que era isso que eu queria fazer.
Quando ingressei no Pré-escolar realizava as atividades propostas, mas em seguida enchia as folhas de palavras e números.
Fui para a primeira série e sempre fui excelente aluna, já na segunda série as professoras queriam aplicar um teste e aprovar-me para a quarta série. Minha mãe não quis. Achou que eu não devia queimar etapas. A esta altura eu era uma leitora voraz e capaz de relatar por escrito, com a maior facilidade, tudo o que lia com mais detalhes do que havia de fato. Quando chegou a quinta série mudei de escola e nesta, assim que cheguei, encantei-me pela biblioteca, ampla e com muitos livros. Logo me chamou a atenção a coleção encadernada de José de Alencar, mas a professora que cuidava a biblioteca dizia que ainda era muito cedo para eu compreender estes livros e enquanto isto me sugeria: O Diário de Ana Maria, Pollyana, entre outros do gênero. A cada semana eu repetia a pergunta: “E agora já posso ler aqueles?” Até que um dia ela cedeu e eu devorei a coleção toda de José de Alencar. Depois li alguns de Machado de Assis e outros autores.
Nesta minha busca insaciável de leitura muitas vezes esquecia até de alimentar-me. Lembro-me que quando estava lendo “O Seminarista”, devido a não atender os chamados dos meus pais para almoçar, meu pai decidiu que não me deixaria comer mais tarde. Não comi, mas li o livro e quase me afoguei em lágrimas até o final. Lágrimas que não eram de fome.
Concluí a oitava série com o firme propósito de tornar-me professora. Meus pais sonhavam com outra profissão para mim e minhas irmãs, e minha mãe, como forma de pressão, disse que a mensalidade do Colégio das Irmãs (escola particular e única que formava professoras) era muito cara e eles não poderiam pagar. Não tive dúvidas. Respondi que então eu pararia de estudar e iria trabalhar para juntar dinheiro e pagar meus estudos. Então ela convenceu-me a cursar o primeiro ano do então segundo grau (hoje Ensino Médio, que era básico) em uma escola estadual. Concordei. Ao final do ano trabalhei como caixa em uma loja de calçados na época de Natal e em março do ano seguinte, realizei meu sonho de ingressar no Magistério. Cursei o Magistério com muita dedicação, destacando-me sempre pela busca da perfeição na realização dos meus trabalhos.
Realizei meu estágio como professora na segunda série de uma escola municipal. Guardo na lembrança muitas recordações desta primeira turma de crianças a mim confiadas e às quais dei muito carinho além de “ensinar” conhecimentos, o que de mim era esperado.
Quando terminei o estágio, na impossibilidade de começar a lecionar, visto não ser ainda formada e de iniciar a faculdade porque precisaria trabalhar para custear os meus estudos, comecei a procurar trabalho no comércio, fiz alguns testes e fui admitida como caixa em um supermercado. Gostava do trabalho, principalmente porque fiz muitas amizades, entre colegas e fregueses, mas no momento em que iniciou o ano letivo e colegas/amigos começaram a freqüentar as aulas, senti um vazio muito grande porque eu ainda não podia iniciar a faculdade (devido ao horário de trabalho) e nem trabalhar no que realmente gostava.
Em meados de abril do ano seguinte surgiu uma vaga em uma escola municipal e o Secretário de Educação me chamou para assumi-la; fiquei realizada, embora as dificuldades fossem muitas. A escola situava-se no extremo oposto de onde eu morava e para chegar até lá eu fazia uma verdadeira “viagem” de lotação por diversos bairros da cidade, levando quarenta minutos para chegar ao destino. A turma, segunda série, era composta por metade dos alunos na faixa etária adequada à série e os demais eram repetentes há vários anos, classificados como indisciplinados e com uma vivência completamente oposta a minha. Ali, nessa escola, iniciei meu verdadeiro aprendizado como educadora e junto aos meus colegas, no trabalho coletivo, fui construindo a minha identidade profissional.
Alguns meses após a minha chegada, a escola passou por uma troca de direção, fruto da união do grupo de professores, que idealizava um trabalho comprometido, diferente do que vinha ocorrendo. A escola passou por uma reestruturação completa. Com a vinda da nova diretora, tive oportunidade de trabalhar no outro turno, como secretária, visto que ela precisava de ajuda para organizar a parte burocrática da escola e eu tinha curso de datilografia e boa vontade. Precisei fazer muitas e novas aprendizagens que foram de muita utilidade para mim posteriormente.
No ano de 1987, por incentivo da diretora, que gostaria que eu continuasse a trabalhar na escola turno integral, prestei concurso público e fui trabalhar em uma escola multisseriada do interior. Foi uma experiência curta, pois eram muitas as dificuldades para chegar até à escola e conciliar os horários das duas. Também nesse ano casei e fiz vestibular.
Sempre fui uma profissional responsável, consciente dos meus deveres, apaixonada pelo meu trabalho, com desejo de aprender mais e acertar sempre. Ao optar pelo curso de Pedagogia – Séries Iniciais, quando ingressei na Universidade, assumi de fato as escolhas que vinha fazendo. A atividade, o movimento da sala de aula mexia comigo, era motivador e era com este grupo de alunos que eu desejava trabalhar.
No ano seguinte fui novamente chamada a assumir o concurso. Novamente numa classe multisseriada do interior. Desta vez o acesso era um pouco mais fácil e mesmo enfrentando muitas dificuldades lá permaneci por um semestre. Na outra escola assumi o desafio de trabalhar com uma turma de alfabetização. Adorei. Foi muito gratificante.
No segundo semestre do mesmo ano fui transferida para outra escola do interior, onde tive algumas dificuldades, devido aos pais dos alunos desejarem que a outra professora que trabalhava lá no outro turno (casada com alguém de lá) conseguisse convocação para ficar lá integralmente. Então fui transferida para uma escola da cidade para substituir uma professora em licença gestante. Era uma escola de um bairro muito pobre e a maioria dos meus alunos de terceira série eram repetentes e fora da faixa etária normal. Logo em seguida ao meu ingresso nessa escola, aconteceu uma greve dos professores municipais por melhores salários e eu, de certa forma revoltada pelas injustiças sofridas, não tive dúvidas, entrei em greve ( a única professora em greve, nas duas escolas em que trabalhava). Este foi um momento muito marcante na minha vida, porque oportunizou-me diversas aprendizagens, muitas das quais conflitantes.
Iniciei o ano seguinte na minha escola primeira, a do coração, novamente com uma turma de primeira série. No outro turno, novamente outro bairro, outra escola e série, a quarta série, durante um mês, até que a diretora da primeira escola, conseguiu trazer-me para ali, já que faltava uma professora para a terceira série. Neste ano realizei novo concurso público, agora para regularizar a situação funcional que era de contrato (20 horas). Quanto aos meus estudos, por problemas financeiros interrompi por dois semestres, retomei-os com prazer na primeira oportunidade – a Universidade enviou-me correspondência oferecendo reingresso.
Após dois meses trabalhando as quarenta horas na mesma escola, a vice-diretora exonerou-se para assumir nomeação no Estado e eu fui convidada para assumir essa função. Lembro-me da diretora dizendo-me: “você é muito novinha, verdinha, mas vai aprender que uma escola se administra com a razão e não com o coração, o importante é que eu sei que posso confiar em você”. E lá fui eu, assumir talvez o maior desafio da minha vida. Não foi fácil, mas eu estava ali, aprendendo, sofrendo, construindo minha identidade na interação com os sujeitos que trabalhavam comigo e muitas vezes me desafiavam. Até essa época eu era uma pessoa muito tímida, reservada. Apenas me transformava na sala de aula com os meus alunos. Precisei aprender a falar para um grande público, a coordenar reuniões de pais, de professores, além de orientar alunos adolescentes.
Permaneci nessa função por dois anos e um novo desafio se apresentou, a diretora da escola foi convidada a trabalhar na 36ª Delegacia de Educação (na época) e eu assumi a direção da escola, provisoriamente, até a realização das eleições, o que demorou dois anos para acontecer. Ao mesmo tempo em que assumia esse novo desafio profissional, desistia do casamento, depois de ter esgotado todas as alternativas para que o mesmo desse certo.
Ao final deste mesmo ano assumi nomeação no Estado, assumindo uma segunda série em uma escola próxima e permaneci na direção apenas 20 horas. No ano seguinte fui trabalhar no interior pelo estado, com uma turma de quarta série. Permaneci na direção da escola municipal, vinte horas, por solicitação do grupo de professores.
Em 1993, formei-me no curso de Pedagogia e senti-me realizada. Aconteceram eleições na escola municipal e eu, novamente desafiada, desta vez a assumir a Coordenação Pedagógica do Currículo por Áreas de Estudo. Mesmo sem ter muita certeza dos rumos a seguir, mas com o firme propósito de aprender e dar o melhor de mim, trabalhei dois anos nessa função, procurando realizar estudos com o grupo de professores, aperfeiçoando o trabalho e construindo coletivamente projetos de trabalho interdisciplinar. Foi uma época de muitos aprendizados. Aprendi que o coração e a razão andam juntos...
Também nessa época fiquei no interior na escola do estado até o meio do ano e com muita dor no coração aceitei o convite para vir para a cidade. Experiências diferentes... desejos conflitantes... queria permanecer no interior, mas financeiramente era melhor vir para a cidade...
Nesse ano também desafiei-me, a pela primeira vez na vida ficar uma semana bem longe de casa, participei do Encontro Nacional de Pedagogia em Brasília e no ano seguinte em Natal, Rio Grande do Norte. Experiências muito marcantes...
Ao final de dois anos decidi que agora voltaria de vez para a sala de aula, mas acabei aceitando trabalhar na Coordenação Pedagógica do Currículo por Áreas de Estudo de uma escola em que só os professores da Área eram o dobro de todos os professores da escola em que eu estava anteriormente. Ironicamente, fui convidada para a função por ter experiência. Precisei aprender muito e dar um duro danado, mas acredito ter realizado um bom trabalho com esse grupo.
Permaneci nesta escola nove anos. Dois na coordenação pedagógica do Currículo por Áreas de Estudo, cinco na coordenação pedagógica da Educação Infantil, Séries Iniciais, Sala de Recursos para Deficientes Visuais, além de organizar e implantar a Educação de Jovens e Adultos e, nos dois últimos anos de volta a sala de aula.
Durante todos esses anos de trabalho, ora em sala de aula, ora na direção, ora na coordenação, sempre tive uma preocupação muito grande em descobrir porque alguns alunos não conseguem aprender e qual a forma de ajudá-los e então decidi que era hora de fazer um Pós que me possibilitasse refletir sobre tudo isso e, por esse motivo, optei em fazer Psicopedagogia – abordagem clínica e institucional. Um novo desafio... que possibilitou-me rever conceitos, preconceitos, encontrar-me e reencontrar-me pessoal e profissionalmente. Muitas aprendizagens e muitas dores também... pois estar aberto aos desafios nos possibilitam crescimento... e isso não nos permite acomodação.
Meu retorno a sala de aula foi muito bom... descobri que posso reinventar-me a cada dia e que a paixão antiga pela docência permanece latente no peito... mas... não resisto a um desafio novo... e lá fui eu novamente, dessa vez atendendo a um convite do Coordenador da 36ª Coordenadoria Regional de Educação assumi a responsabilidade pela Educação de Jovens e Adultos.
Mais um desafio, em todos esses anos de vida profissional, todos recheados de experiências ricas e diferentes... (jamais vou poder dizer que tenho 30 anos de experiência da mesmice...). Educação de Jovens e Adultos.. os excluídos do sistema regular de ensino... os excluídos da sociedade... um desafio apaixonante...
Em três anos de trabalho junto a esse grupo cresci muito e fiz muitas aprendizagens... mas talvez e com certeza as mais importantes não tenham sido aquelas pertinentes aos conhecimentos... mas aquelas que falam ao coração... que nos motivam a sair da cama diariamente para realizar um trabalho que não é de um só... mas de uma equipe ligada pelos laços do companheirismo, da amizade e da confiança mútua. Mais do que nunca sei que o coração e a razão andam juntos....
2007... novamente o pé na estrada... retornando 20 horas para a sala de aula no município, com o desafio de trabalhar Arte-educação e Educação Física com turmas de educação infantil, 1º ano, 2ª e 3ª séries, no outro turno trabalhar com supervisão dos anos finais em uma escola do Estado, além de ter uma experiência com orientação educacional do ensino médio do CIPEL, hoje SEG(em substituição a uma licença gestante) e tutoria do Curso de Graduação de Pedagogia nesse mesmo estabelecimento. Experiências ricas, diferentes... mas que nesse ano mexeram muito comigo, levando-me a um nível de estresse muito grande o que me impediu de continuar e me impôs um tempo para mim. Tempo esse, de descanso forçado e muita reflexão.
Em 2008 já dona de mim novamente assumi o Laboratório de jogos pedagógicos em outra escola estadual (experiência muito gratificante), onde atendia onze turmas semanalmente e no município assumi uma turma de segundo ano do ensino fundamental de nove anos, com muitos problemas em relação a valores, disciplina e aprendizagem. Um desafio e tanto!
E hoje .. cá estou... vinte e três anos de magistério a se completarem no mês de abril, refletindo sobre minha práxis e preparando-me para os novos desafios que devem apresentar-se nesse ano.